O cisne e o tigre.

Relembrando a primeira mensagem :

O cisne, gracioso e elegante, habita a beira dos lagos de águas límpidas e cristalinas. Confortável, ele repulsa a vida na floresta selvagem, e no mínimo esforço consegue comida e água. Vive junto de sua família ou grupo, que o instrui e auxilia desde filhote até a fase adulta. O cisne é inteligente, majestoso e nobre.

O tigre, por outro lado, sente-se bem em correr pela terra úmida e sentir a grama entre suas garras. Ele precisa dos seus instintos predadores e depende apenas de sua velocidade e astúcia para sobreviver. Solitário desde filhote, o felino aprende a matar já jovem, e não sente nenhuma pena de sua presa. O tigre é feroz, sanguinário e selvagem.

Apesar de tantas diferenças, houve o dia em que o cisne precisou do tigre, e vice-versa. Na floresta, todos são iguais.

Participantes:
Krane
Sophia Lamartine

Tempo: Alguns meses atrás.
Local: Xiangzhei.

Eu fechei meus punhos com força e arregalei meus olhos. Eu não ouvia mais Sophia, nem os grilos, e muito menos minha respiração. Até hoje eu prefiro não pensar no que lembrei.

- Nada. Vamos sair daqui. - Eu disse, enquanto balançava minha cabeça em negação. Era visível que eu estava bem mais apreensivo e nervoso do que o comum.

Com pressa para deixar aquele lugar, eu agarrei a mão da loira e a forcei a continuar o caminho, talvez de uma maneira mais firme que o necessário. Acelerando o passo, eu tratei de partir o mais rápido possível.

Voltando para o caminho, eu apenas fiquei quieto. Meu nervosismo era evidente, e o que eu mais queria era que tanto ela quanto eu deixássemos o que aconteceu para lá.

- Vamos dormir. - Disse, seco. - Você deve ter alguma coisa nessa mochila infinita. Eu arrumo meu lugar.

Tentei ignorar seu comportamento incompreensível, já que ele não parecia disposto a me explicar. Mas admito que não foi fácil, e me peguei quase perguntando novamente o que havia acontecido. Só não o fiz porque não conseguia prever direito sua reação, já que ele não estava parecendo a mesma pessoa, e nunca havia visto-o assim.

Conforme ele me puxava pela mão, eu me perguntava o que estava acontecendo e se deveria me preocupar com isso. Não demoramos para parar, entretanto, visto que andamos rápido demais. Com certeza, parecia ótimo parar para dormir logo quando eu já havia perdido o sono, e estava completamente assustada. Mas ele estava sendo tão seco e indiferente que não tinha certeza de que pedir qualquer coisa para ele agora seria uma boa ideia.

— É que... eu trouxe uma tenda grande, cabe duas pessoas tranquilamente. — comecei, um pouco apreensiva — É só montar. Não queria ficar sozinha. — pedi, olhando-o nos olhos.

Não gostava de pedir as coisas assim, quanto menos numa situação como essa, mas eu sabia que não conseguiria dormir tão facilmente depois do que aconteceu. Muito menos completamente sozinha, e no meio de uma floresta. Só esperava que ele considerasse a ideia.

- Não, eu não quero dormir com você. - Respondi sem titubear, da maneira mais ríspida possível. Não sei o que deu em mim naquela noite, e devo admitir que hoje me arrependo bastante. - Durma porque eu quero sair daqui o mais rápido possível, então vai ter que acordar cedo amanhã. E não, se preocupe, estarei perto. - Finalizei, enquanto dava um jeito de fincar a tocha acesa no chão de onde estávamos.

Depois disso, eu a olhei uma última vez. Não me sentia normal. Algo dentro de mim havia despertado ao ver aquela cena na floresta... alguma lembrança que eu evitava ter.

Eu entrei na mata, retirando galhos e cipós do meu caminho. Não sentia mais nenhum sono e nem cansaço, e tudo o que queria era sumir por um momento.Não me lembro de outra ocasião em que estive tão alterado. Aquilo certamente não era efeito do álcool.

Meu queixo caiu por conta de sua resposta totalmente inesperada. Mas quando percebi, me recompus e decidi aceitar. Não me sujeitaria mais a nenhuma humilhação, e não pretendia voltar a pedir algo assim a ele nunca.

— Tudo bem. — dei de ombros, mantendo-me inexpressiva — Não se preocupe, não te incomodarei novamente.

A escuridão e a floresta ainda pareciam bastante ameaçadoras, mas eu conseguiria lidar com isso sozinha. Tirei a tenda da mochila, e passei muito tempo tentando montá-la. Já estava quase desistindo quando finalmente consegui, e posso dizer que meu trabalho não foi tão bem sucedido quanto eu esperava, mas seria o suficiente para algumas horas de sono.

Felizmente, quando terminei já estava com sono. Abri o saco de dormir dentro da tenda e, após retirar meus sapatos — cujos quais a terra realmente estragou — e minhas roupas, mantendo vestidas apenas as peças íntimas, me deitei. Admito, ainda assim não foi fácil pegar no sono. Estava assustada e estranhando o que havia acontecido com Krane, além de me arrepiar ao ouvir qualquer barulho vindo do lado de fora. Mas ao mesmo tempo, o dia havia sido longo, então chegou uma hora em que meu corpo finalmente cedeu.

Eu não lembro de mais nada que aconteceu naquela noite.

Era uma manhã bastante ensolarada. O céu limpo transmitia energia e tudo parecia mais vivo depois da noite assustadora, e a floresta antes escura e misteriosa agora se revelava um lugar bonito e cheio de vida.

O som dos grilos e corujas dava espaço para um belo coro de pássaros, indicando que os animais começavam a acordar. Apesar de tudo isso, a coisa mais prazerosa de se observar era aquela loira semi-nua bem na minha frente. Me perguntei por um instante se não estava sonhando.

- Céus, nunca pensei que você fosse tão gostosa assim. Deveria parar de cobrir tanto o corpo com aquela roupa. - Finalmente falei, alto e perto o suficiente para que a fizesse acordar.

Apesar de estar sem camisa, eu não aparentava ter acabado de acordar. Já estava bastante disposto, e meu cabelo molhado somado à respingos de água no tronco indicavam que havia acabado de me banhar. Eu a observava diretamente com um largo sorriso de satisfação, enquanto a imaginava sem aquelas últimas peças. Meu semblante, por fim, era bastante tranquilo e descontraído, como se nada houvesse acontecido na noite anterior.

Acordei com a voz de Krane, somada ao feixe de luz solar refletido no meu rosto. Inicialmente, não raciocinei sobre a frase dita por ele. Só me preocupei em esfregar os olhos e me espreguiçar, tentando tomar coragem para levantar. Quando finalmente abri os olhos, o vi bem na minha frente me encarando, e finalmente pensei no que ele havia dito.

Mais que automaticamente, me levantei, sentindo meu rosto queimar em um misto de vergonha e raiva. Nem me lembrava de que estava seminua, só esperava que eu acordasse antes dele aparecer. Não prestei muita atenção nele, seu olhar me incomodava, e eu sentia como se precisasse me vestir logo.

— Pare de me encarar, por favor — pedi, sem olhá-lo — Acho que vou tomar banho quando chegarmos na próxima cidade.

Uma vez vestida, reassumi minha postura, finalmente criando coragem para encará-lo. Considerei retomar o assunto da noite anterior, mas sabia que isso não daria certo, além de que ele parecia estar normal novamente. Isso era bom, então preferi evitar, por mais que tenha acabado de passar pelo momento mais vergonhoso da minha vida.

A floresta estava bonita e iluminada agora, e isso me aliviou. O moreno parecia ter acabado de sair do banho. Dei um sorriso malicioso, enquanto me aproximava, observando sua expressão.

— O que foi, gostou demais do que viu? — provoquei, inclinando levemente a cabeça para o lado.

Soltei uma alta e longa risada com sua reação. Até hoje divirto-me ao vê-la envergonhada, mas tenho certeza que ela jamais enrubesceu como naquela vez.

- Pode deixar. - Respondo ironicamente seu pedido. Ela já devia saber que eu apenas ficaria ali sentado acompanhando seus movimentos com os olhos, enquanto observava seu corpo esguio e bem definido encaixar-se na vestimenta. - E relaxe, posso te levar até o lago em que me banhei. Não tenho problema em tomar outro banho acompanhado.

Eu finalmente me levantei, mas continuei a observá-la enquanto ela recuperava a postura e se sentia mais a vontade. Ousada, ela decidiu se aproximar para me provocar novamente, mas eu estava por cima dessa vez. Acabara de constrangê-la, e pela minha experiência sabia que ainda poderia dominá-la.

Eu não respondi de imediato. Aproveitando do espaço curto da barraca, eu a encurralei contra uma de suas extremidades, e apoiei meu braço sob a sustentação do abrigo para impedir que ela fugisse. Cheguei perto o suficiente para colar meus lábios em um de seus ouvidos, e com a ponta do nariz afastei suas mechas para trás da orelha, deixando minha boca em contato com sua pele para finalmente sussurrar em seu ouvido.

- Claro que gostei. - Disse baixinho, enquanto acariciava seu lóbulo com meus lábios. - E se eu fosse você, desfaria essa postura provocativa. Você sabe que já é minha, e que posso tê-la quando bem entender. Só estou esperando você implorar.

Com um sorriso sádico, eu virei as costas e deixei a barraca. Não precisava olhar para saber qual seria a reação de Sophia.

Eu estava começando a achar que ele não responderia à minha provocação, quando ele me encurralou contra uma das extremidades da tenda. Naquele momento, eu já nem sequer respirava. O que estava acontecendo? Eu não sabia. Pela primeira vez, me sentia completamente vulnerável com relação a ele. E isso me deixava insegura, gostava de ter o controle.

Mas, quando ele chega tão perto e sussurra em meu ouvido, quase esqueço de tudo, e minhas pernas chegam a bambear por um momento. Não consegui conter um suspiro, mas me vi na necessidade de me recuperar e provocá-lo de novo. Simplesmente não queria que ele achasse que podia me dominar, ou que eu aceitaria isso. Até hoje não sei de onde tirei forças pra continuar com isso.

— Eu não contaria com isso — sussurrei no mesmo tom que ele, mantendo a proximidade — Tem certeza de que sou eu quem vai implorar?

Fitei-o com um sorriso malicioso, aguardando sua reação.

Ela não obteve nenhuma resposta, e apenas viu-me esboçar um sorriso antes de me afastar. Ela sabia bem quem estava no controle, e eu não a daria chance para que ela revertesse isso. Sua reação era tudo que eu esperava conseguir.

Do lado de fora da barraca, eu vesti a minha jaqueta e me espreguicei. Aquela havia sido uma boa maneira de começar o dia, e eu mal podia esperar para chegar na próxima cidade ainda naquela tarde.

- Vamos logo, pequeno cisne. Precisamos desarmar esse projeto de barraca e seguir viagem. Vai ter tempo de se recompor no caminho. - Disse, olhando-a por trás dos ombros com um sorriso de canto.

O que se sucedeu foi a última coisa que eu esperava. Quando ele simplesmente deixou a barraca, fiquei sem reação. Afinal, o que havia acabado de acontecer ali? Até hoje, não consigo compreender os acontecimentos daquele dia direito. Minha respiração começava a se normalizar aos poucos, mas minha cabeça só ficava cada vez mais confusa.

Permaneci chocada por algum tempo, fitando fixamente o chão. Eu precisava recuperar o controle, não deixaria tão fácil assim para ele. Quando ele me chama, reviro os olhos, mas deixo a barraca sem hesitar, abrindo um sorriso irônico ao sair. Se ele queria jogar, era isso que iríamos fazer.

— Sugiro que você comece a desarmá-la logo, então. — ergui uma das sobrancelhas, cruzando os braços — Acho que é perceptível que não sei fazer essas coisas direito.

Participantes:
Krane
Sophia Lamartine

Tempo: Alguns meses atrás.
Local: Beklard.

Era uma temporada mais chuvosa em Beklard, e havíamos acabado de chegar no lugar. Sophia e eu tínhamos acabado de brigar porque eu decidi seguir meus instintos e continuar o caminho de manhã. Prometi a ela que não choveria, mas não foi bem o que aconteceu. Não que eu me importasse.

Eu continuava o caminho despreocupado, afinal a chuva já havia enfraquecido e uma garoa não era nenhum problema pra mim. Durante meu caminho, entretanto, notei que a medida que deixávamos os bosques e adentrávamos a cidade, pequenas poças de água eram visíveis nas passarelas de Beklard

Estávamos adentrando Beklard, um continente até então desconhecido por mim. O dia já havia começado mal. Acreditei na promessa precipitada de Krane de que não choveria. Mas, lá estava eu, com as roupas encharcadas grudadas ao meu corpo e com os cabelos molhados.

Estava cansada de discutir, por mais que ainda achasse aquela situação absurda, e que só havia acontecido por causa dele. Mas achava que minha situação era muito mais preocupante. Agora só garoava, mas o vento que nos atravessava fazia com que eu tremesse de frio.

Além de ter certeza de que não estava muito apresentável. Isso quer dizer que, por mais que eu precisasse tomar um banho quente urgentemente, provavelmente nenhum lugar que oferecesse uma estadia decente permitiria minha entrada.

— Está frio — choraminguei, enquanto abraçava meu próprio corpo — Preciso de um banho quente.

Eu olhei para trás por um momento para contemplar uma vez mais o corpo de Sophia, ainda mais marcado por conta de suas roupas molhadas. Aquela chuva tinha caído muito bem na verdade, ao menos pra mim. Estava refrescado e tendo uma ótima visão.

Como era manhã, o movimento ainda era lento, ainda mais ali na entrada da cidade. Eu começava a imaginar por onde passaria antes de deixar a cidade, quando Sophia decidiu enfim me encher de novo. Até que ela conseguiu passar um bom tempo quieta.

- Quanta frescura. Depois de tanto tempo eu achei que você já teria largado essas mordomias de vida de rico. Banho quente é algo que está bem distante da gente. Mas se quiser nós podemos tomar um banho frio juntos pra ver se fica mais quente, se é que você entende o que quero dizer. - Provoquei, com uma piscadela.

Nós continuamos o caminho por mais alguns minutos, até deixar completamente a parte verde de Beklard. A garoa ia ficando cada vez mais fina, e as poças no chão paravam de tremular. Foi então que observei-a uma vez mais, e observando bem sua posição, algo passouou pela minha cabeça.

- Pare bem aí! Não se mova! - Eu gritei num tom de desespero, enquanto olhava surpreso para algo embaixo da loira.

Não estava no clima para provocações, então apenas revirei os olhos e permaneci calada. De qualquer maneira, isso provavelmente o deixaria aliviado mesmo. Só sentia falta de estar seca, e aquilo era tudo o que eu queria naquele momento.

Me assusto quando ele me manda ficar parada num tom de desespero, e com a expressão surpresa. Não compreendi o que ele havia visto, e encarei-o com o semblante confuso.

— O que foi? — perguntei, franzindo o cenho.

Aos poucos, minha feição preocupada foi se tornando um sorriso malicioso, e por fim resultou num riso sugestivo.

- Hehehe... nada, só estou observando o reflexo da sua calcinha na água. - Respondi, semicerrando os olhos para aquela poça de água logo abaixo do vestido da loira.

Sabia que ela estava chateada, e estava tentando fazer algo para animá-la ou ao menos constrangê-la. Não que eu quisesse vê-la feliz... é só que ela fica mais irritante quando está pra baixo.

Ergui uma das sobrancelhas, com um pouco de raiva pelo susto, mas soltando um riso involuntariamente em seguida. Me reposicionei, dessa vez me garantindo de que não estava perto de uma poça d'água novamente. Tentei evitar que ficasse ruborizada, mas não tinha certeza de que havia dado certo.

— Bom, então parece que não sou sua, como você tanto diz. Caso contrário, não precisaria do auxílio de uma poça d'água para ver minha calcinha. — provoquei, com um sorriso malicioso nos lábios.

Por um momento, havia esquecido um pouco da situação em que me encontrava. Provocá-lo nunca deixaria de ser divertido.

Aliviei-me com seu riso. Por mais que sua voz me perturbasse 99% das vezes, era agradável quando ela ria. Talvez por ser um sinal que eu tinha jeito com mulheres. Como se eu precisasse de um sinal disso.

Voltei a andar novamente, e logo em seguida veio a provocação que eu já esperava. A essa altura, entretanto, eu já estava preparado para qualquer coisa que ela dissesse. Mulheres são como enigmas, e Sophia já estava resolvida.

- Você é sim. Nós dois sabemos que se eu agir como um cara legal por uma noite, vou estar entre suas pernas facilmente. Eu só quero esperar você não aguentar mais e pular em cima de mim. - Retruquei tranquilamente, crente do que estava dizendo.

Eu então desacelerei meus passos para andar ao lado dela, e assim prosseguimos. Não tardou para que a verdadeira cidade das cachoeiras estivesse diante de nós, com todos os seus comércios e estalagens já abertos. Eram tantas coisas para fazer por lá que eu não sabia por onde começar. Até hoje me lembro muito bem da minha primeira visita ao lugar, quando conheci aquele Seraph. Na época, entretanto, preferia não comentar sobre isso com Sophia.

— Nós dois também sabemos que você é qualquer coisa, menos um cara legal. — dei um sorriso maldoso — E que não há nenhuma chance de que eu "pule em cima de você".

Logo chegamos à cidade, e me senti um pouco perdida de imediato. Ela parecia grande.

— E então, o que vai querer fazer primeiro? Beber? — perguntei ironicamente, já prevendo a resposta que estaria por vir. — De qualquer maneira, eu agradeceria se pudesse tomar um banho e trocar de roupa logo.

Estava realmente incomodada, e precisava de sua ajuda para encontrar algum lugar em que eu pudesse ao menos me banhar, já que eu nunca havia estado lá antes.

Apenas ignorei seu comentário. Sabia que se eu fosse rígido demais com ela, acabaria com as pernas bambas e corada novamente.

Quando chegamos na cidade, ainda era manhã. As tavernas estavam todas fechadas, e provavelmente não teria ninguém dentro se estivessem abertas. Tudo que pude fazer foi aceitar a situação e fingir ser uma pessoa legal.

- Pra você parar de reclamar e encher o meu saco, escolha o que quer fazer primeiro. Só por favor não queira ir fazer alguma coisa de riquinho perto de mim. - Disse, dando de ombros. Iria contar os minutos para o horário de movimento dos bares.

— Por enquanto, só quero tomar um banho mesmo — dei de ombros, estranhando que ele tenha aceitado — Depois podemos ver o que fazer, nem conheço a cidade. Aliás, o que deu em você? — questionei, encarando-o com as sobrancelhas erguidas.

Como era de manhã, ainda ventava bastante. A vantagem era que já não estava tão molhada quanto antes, logo não sentia mais tanto frio, mas um banho ainda fazia-se necessário. Observei a cidade a minha volta com curiosidade, pensando se faria mesmo alguma coisa que não houvesse sido escolhida do moreno ao meu lado. Essa possibilidade, apesar de remota, me deixava mais animada. Talvez o dia não seria tão ruim assim.

- Ah, sabe como é. Eu sou incrível, e você já deveria saber disso. - Disse de maneira convencida, com um ligeiro sorriso de canto. - Vamos procurar uma estalagem pra você tomar o seu maldito banho. Alguma que não custe mais do que um copo de cerveja de preferência.

Já ali na cidade, eu tiro meu capuz. A chuva já havia cessado, e isso só aumentava o número de pessoas na rua. Queria sair logo dali, odeio lugares movimentados sem bebida ou brigas. Sabia, entretanto, que Sophia demoraria uma eternidade para tomar uma atitude.

Revirei os olhos com sua resposta. O dia já parecia estar começando a esquentar, e isso me deixou realmente aliviada. Demoro para respondê-lo, passando a reparar no que havia a minha volta. A cidade já estava mais movimentada, e eu esperava encontrar algo para fazer que me agradasse. Voltei a encarar o moreno, ainda um pouco pensativa.

— Com certeza, você é incrível. Mas nunca será tanto quanto eu, sinto muito. — Respondi com um sorriso irônico, provocando-o — E, me diga, quanto dinheiro você gasta comprando cervejas todos os dias? Por favor, só me deixe tomar um banho em um lugar minimamente decente. Posso até ficar doente depois daquela chuva. — completei, de maneira dramática.

Em seguida, puxo-o para que comecemos a procurar uma estalagem que me agradasse ao menos um pouco. Quando encontro um menos ruim, já esperava que Krane implicaria. E não seria pouco.

- HAHAHAHAHAHAHAHA. ESSA?! - Gargalhei alto, de maneira completamente exagerada. Não me importava se os responsáveis da estalagem se ofenderiam, nem com o quão inconveniente eu seria para qualquer um próximo. - Você deve estar brincando. Foda-se, o dinheiro é seu, mas eu não torro minha grana num lugar como esse. Eles devem ter até água quente! Pff. - Reclamei enquanto cruzava meus braços e me negava entrar ali. A tentativa de boa convivência não tinha como dar certo de qualquer maneira.